outubro 16, 2005

O OLHO E O ESPECTADOR

[...] Não seria possível ensinar o modernismo às crianças como uma série de fábulas de Esopo? Seria mais memorável do que a apreciação da arte. Pense em fábulas como "Quem Matou a Ilusão" ou "Como a Borda se Rebelou contra o Centro". "O Homem que Violou a Tela" viria depois de "Onde Foi Parar a Moldura?" Seria fácil chegar às morais: imagine "O Empaste Evanescente que Escorreu - e Depois Voltou e Ficou Gorduroso". E como contaríamos a história da pequena Superfície Pictórica que cresceu e se tornou tão malvada? Como ela despejou todo o mundo, inclusive o Pai Perspectiva e a Mãe Espaço, que criaram filhos legítimos tão bacanas e abandonaram apenas esse fruto horrendo de um caso incestuoso, chamado Abstração, que desprezou a todos, entre os quais - mais tarde - suas amigas Metáfora e Ambigüidade; e como a Abstração e a Superfície Pictórica, unha e carne, ficaram enxotando um moleque persistente chamado Colagem, que não desistia nunca. As fábulas dão mais latitude do que a história da arte [...]
Texto extraído do livro No Interior do Cubo Branco de Brian O'Doherty.
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