setembro 04, 2007

Exposição FASM


Série Cabeças

Na série Cabeças, chapas de radiografias de crânios são sobrepostas aos desenhos de um caderno, e depois são fotografadas.

Trata-se de um procedimento muito simples que permite deslizar a chapa sobre o desenho para escolher o que deve ser mostrado e o que deve ser coberto. Ao usar a fotografia eletrônica desta sobreposição tenho a liberdade de controlar a luz e a cor para melhor integrar as duas imagens.

A cabeça é a parte mais alta do corpo humano e onde estão os órgãos do comando. Representa o centro das atividades, sendo a sede do intelecto, da inteligência, do pensamento e da memória.
A radiografia por si só é interessante, uma vez que mostra outra possibilidade de ver o corpo. Em O Corpo Impossível, Moraes observa que “a caveira não é apenas um símbolo fúnebre mas também, e ao mesmo tempo, uma evocação da vida: na qualidade de signo que identifica o gênero humano, ela constitui o imperecível, o que perdura do corpo mesmo depois da morte” (Moraes, 2002, 206). Quando esta imagem é colocada sobre um desenho, é como se o pensamento inconsciente e o corpo se fundissem.

Os trabalhos desta série tiveram sua cor retirada através do tratamento de imagem digital. A decisão de restringir a obra apenas ao preto, branco e cinza foi tomada não só em função de evitar a distração causada pelas cores, mas pelo caráter simbólico destas tonalidades.

O branco e o preto são forças opostas e por isso, um encontra maior força em oposição ao outro. Sendo assim o fundo preto faz com que a figura da cabeça fique em evidência.

O preto é substância que absorve todas as luzes e não transmite nenhuma, sendo a negação da luz. Por isso torna-se o emblema de toda negação e pode ser identificado com a idéia de morte, que é a negação da vida. Já o branco significa proximidade com a clareza, paz de espírito e abertura de seu corpo para as coisas boas. O branco, apesar de sua pureza tem um significado ambivalente. Pode sugerir a idéia de morte terrestre, pois implica na separação da alma (branca) e do corpo (negro). Tal como o preto, o branco também pode ser um emblema do luto.

A tradição de envolver os mortos em lençóis brancos remonta aos egípcios. Ela significa que a morte liberta a alma do corpo, separa o que é claro do obscuro, o que é leve e imaterial do material e pesado (Rousseau, 1980, p. 111).

Segundo Rousseau o significado fundamental do branco é a unidade. Para ele é impossível nos confrontarmos com o "Abismo da Brancura" sem que tenhamos a idéia de mudança de estado, que para o homem é a morte. Em vários rituais místicos, é a cor indicativa das mutações e transições do ser. Segundo o esquema tradicional de toda iniciação, ele representa morte e nascimento ou ressurreição.